"Smell, like colour, is a
biological phenomenon. It is not an intrinsic property of a molecule - it is
what our cells feel when they touch it.
In other words, it is a problem of
molecular recognition."
Este artigo trata, brevemente, do tema perfumes, seus aromas, frascos e embalagens. Observa o cotidiano das compras deste produto e as tendências de comportamento do consumidor em face à persuasão mercadológica das grandes marcas. Propõe a livre escolha para construção de uma identidade individual e do espírito crítico, evitando, assim, a automatização.
Quem não
aprecia um delicioso perfume? Um inebriante odor, seja ele proveniente da
natureza, no caso de uma flor - e há tantas delas - tal qual jasmim, rosa, cravo,
lírio do vale, magnólia, narciso, gardênia; ou então, odores de frutas como
morango, pêssego, maçã, abacaxi, melancia e coco ou odores mais modernos como, ar fresco,
chuva de verão, gelo seco ou outros odores pungentes como os do tabaco, couro,
patchuli e pimenta?
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| Jungle Eau de Parfum de Kenzo |
A indústria
dos perfumes veio suprir a necessidade de termos mais perto de nós e por mais
tempo um aroma que gostamos. Não quero aqui citar a história da perfumaria, mas falar de
carências mais recentes, onde o ser humano, induzido pelo marketing moderno, procura embelezar-se e nutrir-se com bálsamos e especiarias, seja pelo mais
puro prazer, por necessidades auto afetivas ou por mero exibicionismo. Acredito
também que pelas exigências da nossa sociedade industrial, dificilmente ficaremos sem usar qualquer
fragrância, seja ela proveniente de um perfume, loção ou sabonete - desde as mais antigas ou mais recentes, a não ser que esta seja uma
escolha radical.
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| Bellogia Eau de Parfum de Caron |
Atualmente
temos uma vasta gama de perfumes estrangeiros e alguns nacionais. Mais de 500
novos perfumes são lançados no mercado internacional cada ano. Nossa escolha acaba ficando cada
dia mais difícil pois existem grandes semelhanças entre os perfumes com pequenas variantes. Os grandes lançamentos são, genericamente falando, 90% cítricos para o mercado
masculino e tendem a ser 90% com odor pêssego misturado com íris para o
feminino.
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| Fahrenheit Eau de Parfum de Dior |
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| Polo Eau de Toilette de Ralph Lauren |
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| Eau Sauvage Eau de Toilette de Dior |
Como deve-se
fazer para escolher um novo perfume? Não tendo de antemão uma marca na cabeça, ou uma fragrância já conhecida e usada, é um processo bastante confuso. Normalmente dirigimo-nos a uma loja especializada. Esta se
encontra previamente perfumada. Os odores estão todos misturados no ar, seja pelos
compradores anteriores, pelas amostras que foram abertas ou pelos clientes que
chegam in-devidamente perfumados.
Sair à
procura numa nova idéia ou um novo conceito de perfume exige um pouco de espírito
de aventura. Teremos sorte de encontrar a opinião abalizada de um vendedor conhecedor
de seu métier, ou azar se depararmos com um vendedor novato, que feliz, poderá lhe oferecer uma
dezena de perfumes e deixar você totalmente indeciso porque: (a) os odores são muito
parecidos entre si (b) são muito doces (c) são muito cítricos (d) não
apresentam um diferencial olfativo perante aqueles que você já possui.
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| Royal Dove Eau de Parfum de Delagar |
Se
aparentarmos não saber o que queremos, o vendedor vai tentar lhe vender os
últimos lançamentos, provavelmente de alguma atriz ou starlet americana como Jennifer Lopez, Paris Hilton ou Sarah Jessica Parker…Nesse caso é preciso
redobrar o cuidado!
A dúvida se
instala. O quê
você faria caso uma prestigiosa revista internacional noticiasse o
lançamento de perfumes de quatro famosos ateliers de moda e,
após prová-los, nenhum deles lhe parecesse especial? Compraria por comprar sem
gostar muito? Ou pensaria que não há mal algum em levar algo novo para
casa? Imaginaria estar up to date, ao usá-lo
nas festas com amigos? Afinal cheiros também elevam status. Odores revelam
bom gosto, atitude perante a vida e posição na escala social! Ou não?
Associar sua
persona a uma marca de luxo é um verdadeiro sonho tornado realidade e perfume é
um dos luxos mais acessíveis. Passear cheirando Infusion D’Iris (Prada/2007), Apple
de Marc Jacobs (Marc Jacobs/2010), Eau Sauvage (Dior/1966) ou Azzaro pour Homme
(Azzaro/1975) poderá ser altamente edificante para seu ego, talvez um pouco
menos para o seu bolso.
Assim, nesta escolha, há de se decidir por um deles. Qual será o fator decisional? Bem, se todos odores parecem muito semelhantes, pode-se optar por um segundo fator de escolha, se não for o primeiro para muitas pessoas - o seu frasco!
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| Dolce Vita Eau de Parfum de Dior |
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| Omnia Green Jade Eau de Parfum de Bulgari |
No começo do
século, antes da Primeira Guerra Mundial, as grandes Casas de Moda como Chanel,
Lanvin e Patou, lançaram seus perfumes em frascos feitos por Lalique e Baccarat
que eram empresas especializadas em cristaleria. Seus frascos eram verdadeiras obras de
arte. Mais tarde
com a democratização do perfume, surgiram as Eau de Toilette e Eau de Parfum e
os frascos então também se simplificaram e foram industrializados, sendo até
hoje feitos em vidro com tampas em plástico e outros materiais mais baratos
para atender a demanda do middle market.
Ainda assim,
as marcas de luxo investem uma grande quantidade de dinheiro no ramo da
perfumaria e consequentemente nos seus envólucros. Falo não somente dos frascos
mas da embalagem como um todo. A caixa que protege o frasco é também motivo de investimento
em design e complementa o conceito. Os frascos estão sempre sendo alvo de
design altamente sofisticado, para atrair cada vez mais clientes muitos destes olfativamente
destreinados e pouco exigentes. Aqui no Brasil, o mercado responde diferentemente. Ainda é um mercado incipiente e o investimento é pequeno comparativamente ao mercado perfumista estrangeiro. As mais destacadas são a Natura e o Boticário. O grande fetiche, porém, é o perfume importado.
Devo, neste momento, abrir um parênteses, porque estaria sendo injusta se omitisse citar aqueles que
são clientes fiéis de suas marcas, idólatras de seus odores - seus Chanel nº 5, Opium (YSL/1977), Shalimar (Guerlain/1925), Polo (Ralph Lauren/1978), Eau
Sauvage (Dior/1966), para falar dos odores mais tradicionais.
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| Nº 8 Eau de Parfum de Chanel |
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| Opium Eau de Toilette de Ives St. Laurent |
Mulheres e homens
sofisticados, cheirosos, amantes de aromas elegantes que remetem ao divino, são
narizes que podem cheirar múltiplas essências e distinguir várias notas que
compõe uma fragrância. São experts e não são presas tão fáceis das
últimas novidades e ardis das marcas de luxo.
Entretanto é
sabido que os perfumes tem sofrido reformulações e não são os mesmos que foram
outrora. Obviamente as indústrias não se revelam. As razões são múltiplas;
materiais naturais são substituídos por sintéticos porque desapareceram, ou tornaram-se muito raros e portanto caros e são substituídos por materiais mais
baratos. Também variam de cheiro conforme a colheita do ano. Alguns materiais
devem se adaptar à leis de segurança da IFRA – International Fragrance
Association. Quem conheceu e usou regularmente um perfume e o for recomprá-lo
hoje, ficará seguramente decepcionado. Somente seu nome e talvez o frasco mantiveram-se
iguais.
Afirmam que Shalimar, de
Guerlain, não é mais o mesmo. Seu frasco acabou de ser redesenhado e sua
fragrância não é mais a mesma. Restou somente sua idéia e seu mito. J’adore de
Dior também. O frasco é igual, mas seu aroma é uma pálida idéia do que foi.
Fleur de Rocaille de Caron, cheirava a um inebriante bouquet de flores, mas hoje
cheira a rosa ácida. Jicky perdeu sua boa dose de almíscar.
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| Shalimar Parfum de Guerlain |
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| Shalimar Eau de Cologne de Guerlain |
Assim, continuando,
o fator de escolha recai inúmeras vezes no design dos frascos, quando o
comprador não tão versado na ciência, desorientado pelos odores semelhantes,
pelo vendedor desarticulado, pelo ambiente já odorizado, sucumbe ao forte apelo
visual da embalagem e por isso mesmo o motivo no seu grande investimento aqui no Brasil.
Esse
é o “ardil” mais fácil que os usuários devem enfrentar, porque é uma atração
indescritível; escolher entre os belos frascos coloridos, de ricos formatos
geométricos ou orgânicos, altos ou baixos, em vidros brilhantes ou foscos, com
acabamentos em metal, madeira e plásticos rebuscados; com tampas em metal
dourado, prateado, acobreado, transparentes ou sólidas, com uma riqueza de
estampas e detalhes de ressaltos ou rebaixos, logos exóticos, caixas suntuosas em
papelões aveludados que antecipam o prazer do nobre encontro com a fragrância
desejada, mas quase incógnita; momento este que se assemelha ao
prazer que nos daria o encontro com um sedutor amante secreto.
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| Annic Goutal Eau de Parfum de Gardenia Passion |
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| J'Adore Eau de Parfum de Dior |
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| Trésor Eau de Parfum de Lâncome |
O design de
produto e gráfico, têm um papel preponderante na vida da perfumaria. Como somos
por natureza criaturas visuais e tácteis, queremos ser sensibilizados pelos
objetos. Um perfume nos propõe três tipos bem fortes de sensibilização; a
olfativa, a visual e a táctil. O perfume é
um objeto de alto sentido, porque traz prazer e função. Desde sua embalagem até
seu conteúdo liquido contendo seu odor. Por um lado ou por outro, esta indústria soube muito bem enredar seu público alvo.
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| Opening Night - Parfum de Lucien Lelong |
Se a nossa
aventura pela descoberta de um novo perfume for motivada pela busca por novo
cheiro ou por uma memória olfativa ou ainda pela busca de status ou um impulso
consumista ou quem sabe algum imperativo estético, devemos estar conscientes
que, de qualquer forma, estamos presos a outro imperativo - o econômico - da
nossa era.
Desta forma, mesmo pensando em todos os aspectos de sustentabilidade, acabaremos por comprá-lo!
Suzana M. Sacchi Padovano
Nota:
As fotos foram colocadas em ordem aleatória,
mais por questões estéticas do que por razões históricas. Todos os frascos
pertencem à coleção particular da autora. As fotos têm direito autoral e não podem ser reproduzidas.
Créditos:
Fotografias
Suzana M. Sacchi Padovano
25 de Janeiro 2011
Atualizado em 08/07/2015
Atualizado em 24/10/2018
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